Triste Realidade da Dependência Química

Publicado por Gildazio em 07 julho 2017

     Esses dias foram um misto de alegria e tristeza profunda, para mim. 

     Ao tempo em que fui agraciada pelas mais altas comendas concedidas pelas policias militares dos estados do Pernambuco e do Maranhão, em virtude dos serviços prestados na área da prevenção às drogas e à violência, deparei-me com mais uma situação estarrecedora dos prejuízos causados pela dependência química em uma família.

    Uma amiga teve sua casa invadida e foi vítima de agressões de seu próprio irmão, dependente químico em crise aguda de abstinência; ele queria dinheiro para comprar drogas, e fez um escândalo que acrescentou vergonha ao sofrimento da família de classe média alta, que não sabe mais o que fazer para resolver esse problema.

     Segundo os familiares, esse homem, que beira os 50 anos de idade, já foi um cidadão em sua plenitude, pai de 2 lindos filhos, esposa dedicada e com emprego estável. E um dia experimentou o crack ao lhe ser oferecido pelos “amigos da cervejinha”, um grupo com quem socializava nos fins de semana.

     Foi uma centelha de tempo para que ele dependesse da pedra como quem precisa de água para sobreviver. Começou gastando parte do salário… depois todo ele! … mais tarde, foi se desfazendo de tudo que tinha valor dentro de casa… nesse momento, a esposa o deixou, por não suportar mais as agressões sem razoes nem porquês e a ausência de condições mínimas de dar aos filhos uma vida digna. E então nenhum dinheiro era suficiente para as dívidas com os traficantes… e as desculpas para a família para obter recursos foram se esgotando.

     Passou por várias internações em comunidades terapêuticas, após pedidos regados a muitas lágrimas dos familiares.  Desistia sempre em no máximo 30 dias, quando inventava uma briga na casa de acolhimento e encontrava uma boa desculpa para sair e voltar a fumar… e a beber!

     Ontem eu o encontrei na porta do prédio de sua irmã, aos berros, querendo mais dinheiro. Maltrapilho, sujo, dentes quebrados, olhos vermelhos e irrequietos… nitidamente acometido pelos efeitos da dependência química. Conversei com ele, olho no olho, e ofereci nova internação em uma comunidade terapêutica. Ele disse que primeiro tinha “que pagar uma divida com o tráfico”, porque estava sendo “ameaçado de morte”. Vi em seus olhos a desculpa para dizer não ao tratamento, ou tentativa de tratamento ou controle. Ele não tem  forças sequer para desejar se desvencilhar das substancias psicóticas. A droga o venceu!

     Eu disse a ele que compreendia o seu comportamento e que, quando ele desejasse, poderia me procurar para uma internação. O homem assentiu com a cabeça e disse: “… É, Major! Porque a senhora sabe… só funciona mesmo se eu quiser de verdade. Não adianta tentar enganar a senhora ou minha família; não estou preparado para parar.”

     Nesse momento sua irmã lhe falou, chorando, da mãe deles que sofre de doença degenerativa e que, a cada dia, perdia mais a consciência e que já beirava a morte. O homem, nitidamente transtornado e sem um mínimo de compaixão ou  qualquer outro sentimento, disse: “Todos vamos morrer um dia. Deve ser a hora dela!”… E saiu resmungando palavras de baixo calão com a irmã que não lhe dera dinheiro.

     Triste a realidade dessas pessoas que, infelizmente, experimentaram a droga e torram-se dela dependente. Para elas, nada mais tem sentido ou valor! É-lhes a razão de viver… e não há absolutamente nada que lhes seja mais importante.

     Todos sabem que defendo a prevenção primária, onde nossas crianças, adolescentes, jovens e até adultos digam NÃO às drogas, e sequer experimentem essas substancias que lhes podem destruir as perspectivas de vida. Mas não podemos esquecer que muitos de nossos cidadãos não tiveram nossas lições de prevenção e, desconhecendo o poder destruidor das drogas, tornaram-se dependentes químicos e agora precisam da ajuda do estado. É uma realidade triste da qual não podemos nos furtar e devemos exigir de nossos governantes um olhar mais atento e cuidadoso para as políticas sobre drogas, também no campo do tratamento e cuidado.

Imagens: Internet

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